Ubatuba VIP

Tudo o que vai por Ubatuba. Uma cidade diferente...

Friday, December 31, 2010

31 / 12 / 2010


Último dia!

Sidney Borges
O ano acabou. O governo Lula acabou. Brindo a isso! Que venha o novo, alegria do povo!

Friday, July 16, 2010

Mundo

Nada muda, embora pareça

Sidney Borges
O goleiro Bruno ocupa as manchetes. É suspeito de ter matado, ou ter sido o mandante da morte de Eliza Samudio, garota sonhadora que queria viver ao lado de um craque do futebol. Bruno não tem aparência de criminoso, acredito até que não tenha perfil de delinqüente, parece mesmo é ter a cabeça vazia. Como tantos rapazes de sua idade. A opção frente ao problema da paternidade indesejada e do assédio jurídico que acarretou foi equivocada. Ao matar Eliza, Bruno matou a si próprio. Ela está enterrada em algum lugar, ou melhor, o que restou do repasto dos cães. Ele está estigmatizado para sempre. Nunca mais terá sossego, nunca mais jogará em um grande clube, nunca mais ganhará dinheiro com o dom que a natureza lhe deu. Primatas agem por imitação, a experiência dos mais velhos é o guia das ações dos menores. Sem um paradigma a opção pode ser a pior possível. Eu gostaria de ver um exame de QI de Bruno. Não o imagino burro, mas inteligente sei que ele não é. Pimenta Neves, homem inteligente agiu como idiota ao matar por ciúmes. Existe uma diferença: Pimenta Neves é intocável, pertence aos tradicionais troncos dos que podem tudo e nada lhes acontece. Bruno não é Pimenta Neves. Vai mofar na prisão.

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Tuesday, April 29, 2008

Reflexões

Vida atribulada de cão

Meu cachorro está estressado. Sua preciosa ração vem sofrendo ameaças. Durante o dia são bem-te-vis, pardais e saíras que não param de atacar as preciosas rosquinhas. À noite gambás e ratos silvestres se encarregam de interromper o sono e os sonhos do bom Brasil. (Meu cachorro se chama Brasil!) Ele faz o que pode, avança célere, mas não tem logrado êxito. Com moscas sim. É um exímio caçador, não há um só dia que eu não o veja dando botes certeiros. Plac! As mandíbulas se fecham e a mosca vai ao encontro de São Pedro prestar contas. Se foi boa terá a eternidade no Paraíso, lotado de carcaças putrefatas e repolhos em decomposição. Caso tenha pecado contra a castidade sua derradeira morada será o Inferno, lugar limpinho com borrifadores de detefon lançando jatos a cada trinta segundos. Os ratos silvestres são mais comportados do que as ratazanas urbanas. Dizem que em São Paulo há quatro ratos por habitante, o que perfaz uma alentada população de roedores de 60 milhões de indivíduos. Supondo que cada rato coma 10 gramas por dia, a rataiada consome 600 toneladas de alimentos a cada 24 horas. Acho que o governo deveria capturar e exportar esses ratos para a China. Eles saberiam o que fazer com eles, quem sabe ratos laqueados. Antigamente havia os caçadores de ratos. Eu achava que eram os homens mais importantes do país, no mesmo nível de Getúlio, Café Filho e Falcão Negro. Na minha rua aparecia de tempos em tempos um deles, sempre impecável de roupa caqui e boné de legionário. Espalhava armadilhas pelos terrenos baldios e ficava de cócoras fumando um cigarrinho de palha enrolado cuidadosamente. Depois de algumas horas recolhia os ratos em uma caixa de madeira que levava a tiracolo e partia com sorriso de vencedor, estilo homem de Marlboro. Eu queria ser caçador de ratos, mas minha mãe não aprovou. Ela disse que eu ia ser médico. Ou contador. Acabei virando contador. De histórias. Mães não erram...


Sidney Borges

Friday, April 18, 2008

Casos de consultório

Visão fugaz do Paraíso

Era um dia normal de atendimento na Santa Casa de Ilhabela, eu fazia uma visita a um paciente recém operado e presenciei um diálogo na enfermaria que vale à pena ser contado.
Em um dos leitos havia um homem de idade avançada, internado em estado de coma por diabetes. Medicado e recebendo todos os cuidados necessários, em certos momentos o coma se tornava superficial e o paciente voltava à consciência. Num desses instantes veio a pergunta clássica de quem acorda em lugar estranho:
- “Onde estou?”
O acompanhante, membro da família, visivelmente cansado da indagação recorrente respondeu baixinho, em tom de padre:
- “Você está no Paraíso meu filho...”
O homem ficou espantado e perguntou aflito:
- “Então eu morri?”
A resposta foi imediata:
- “Sim meu filho, você morreu, eu estou lhe reconhecendo. Você não é filho do Baiano?“
Dessa vez o homem pensou um pouco antes de concluir:
- “Você sabe o nome de meu pai, então eu também o estou reconhecendo, você, digo o senhor, deve ser São Pedro, o santo da devoção de meu pai.”
Depois desse diálogo inusitado o paciente entrou novamente em coma aparentando felicidade, com um sorriso nos lábios. A visão celestial deve ter feito bem, o caso praticamente perdido reverteu e dias depois ele foi-se embora imaginando ter conversado com o porteiro do céu. Pelo menos que eu saiba tal encontro ainda não se deu.

Ricardo Cortes

Friday, April 11, 2008

Luiz Inácio falou

Sobre o 3º mandato

- As pessoas que estão preocupadas com o terceiro mandato são as pessoas que não achavam ruim quando os militares ficaram 23 anos no poder. E são as pessoas que aprovaram a reeleição.

- Oito anos na presidência de um país é tempo suficiente para a gente executar um programa de governo. Sou contra o terceiro mandato porque a democracia é um valor incomensurável com o qual não podemos brincar. E a alternância de poder é uma coisa extremamente saudável para o país.

- Qualquer pessoa que se ache imprescindível começa a colocar riscos à democracia. Pobre do governante que começa a achar que é insubstituível ou imprescindível. Está nascendo, dentro dele, uma pequena porção de autoritarismo ou de prepotência. E isso eu não carrego na minha bagagem política. (Lula na Holanda)

Casos de consultório

Amizade sincera

Localizada a 25 km da Ilha de São Sebastião, a Ilha de Búzios é um verdadeiro paraíso para os praticantes de mergulho. Não é difícil avistar golfinhos, tartarugas e baleias passeando na área, também pródiga em peixes e lagostas que vivem nas tocas entre as pedras. A água límpida e a fauna marinha garantem belos visuais. Nesse recanto preservado de nosso litoral vivem famílias de pescadores em um ambiente quase isolado do mundo que conhecemos.Há mais de vinte anos, quando eu era médico em Ilhabela participei de diversas expedições à Ilha de Búzios, cuja finalidade era dar atendimentos variados à população, desde vacinação das crianças contra a pólio à vacinação de cães contra a raiva. No barco iam médicos, paramédicos e enfermeiros e ao chegarmos a vila ficava em festa. Onde quase nada acontece qualquer alteração da rotina vira um grande acontecimento.Em uma dessa visitas, bati à porta de uma casinha na areia, construída em meio a árvores e pedras que a protegiam dos ventos. Coberta de sapé e cercada por uma mureta baixa de bambu me fez imaginar que o projeto devia remontar ao período neolítico. Sem contato e intercâmbio as coisas não mudam.Depois de bater palmas algumas vezes fui atendido por um homem de idade indefinida, mas seguramente entrado nos anos. Ao me ver vestido de branco ele ficou surpreso e antes que dissesse alguma coisa eu me adiantei:
- O senhor tem cachorro?
- Tem sim.
- Eu vou aplicar uma vacina nele?
- Vacina pra quê?
- Contra a raiva.
- Não bai não. Olha ele ali deitadinho tomando sol. Maruj é mansinho, está comigo há dez anos e nunca mordeu ninguém. Como ele pode ter raiva?
Tentei argumentar, mas foi inútil, enquanto conversávamos Maruj acordou e veio participar abanando o rabo satisfeito, era de fato muito simpático e só foi vacinado na outra visita, quando o dono estava pescando.
Anos depois atendi o velho pescador em Ilhabela. Lembrei-me do caso e perguntei do Maruj. Os olhos dele se encheram de lágrimas, o amigo tinha partido há um mês. Viveu vinte anos sem jamais ter sentido raiva.

Ricardo Cortes

Casos de consultório

Improvisando

Um provérbio popular me veio à cabeça naquele dia longínquo da década de 1980, para ser mais preciso corria o ano santo de 1985. Quem não tem cão caça com gato. Quem não ouviu tal aforismo ao longo da vida? Pois foi algo parecido que ocorreu a um simpaticíssimo senhor caiçara da Ilhabela no dia ao qual me referi no início deste texto.Primeiramente devo me apresentar, sou médico, meu nome é Ricardo Cortes e eu estava de plantão na Santa Casa de Ilhabela em um dia calmo do mês de maio, quando quase não há turistas e as noites são estreladas e frias. Pouco movimento, situação ideal para ler um livro policial, especialmente para mim que sou legista.Eu estava em meu consultório e em certo momento a leitura foi interrompida por uma enfermeira que bateu à porta e entrou com uma ficha na mão:- Um caso especial para o senhor, doutor. Dor de dente. Fechei o livro e fiz a pergunta óbvia:- Não tem dentista na cidade?- Tem, mas é particular. O paciente é pobre. É melhor o senhor dar uma olhada, o homem está chorando.Mandei que entrasse. Era um homem de sessenta e poucos anos transtornado de dor, com a cabeça entre as mãos, acompanhado da mulher muito assustada e bem mais jovem.Examinei o dente, um canino, na boca só havia ele e o outro canino, um vazio desolador. Estava inflamado. Expliquei ao homem que eu ia dar um analgésico para tirar a dor e que ele procurasse um dentista. Não devo ter sido convincente, ele implorou pelo boticão, com tanta veemência que acabei concordando. Tirei o dente e ele foi-se embora satisfeito.Voltei ao livro e quando me preparava para um cochilo fui novamente chamado a atender o mesmo homem. Seu Siqueira, agora meu conhecido. Meio que assoviando com a boca torta ele me disse:- O senhor precisa me fazer um favor doutor. Tirar o dente que sobrou. Estou muito feio com um dente só, minha mulher ficou rindo de mim, ainda está rindo. Por favor doutor, depois eu mando fazer uma chapa.O homem era convincente e teimoso e como um dente só é como uma andorinha sozinha que não faz verão, tirei o último dos moicanos. Ele saiu do hospital feliz, elogiando minha mão leve.Voltei ao consultório e ainda consegui ler o final de “Bufo & Spallanzani”, de Rubem Fonseca, antes de dormir. Naquela noite o plantão foi tranqüilo, ninguém mais precisou de atendimento médico. Ou odontológico.Na manhã seguinte, quando meu horário estava para terminar surgiu em minha frente o velho conhecido seu Siqueira, acompanhado da mulher e de quatro crianças. Assustadas, pois estavam lá para tratar os dentes comigo. Segundo seu Siqueira um ótimo dentista:- Arranca sem dor. E sem muita conversa.

Ricardo Cortes

Wednesday, April 09, 2008

Tibet

Levitação

Na adolescência li O despertar dos mágicos, A terceira visão, de Lobsang Rampa e a trilogia de Herman Hesse, Demian, O lobo da estepe e Siddharta. Nessa época circulava a história de um casal em férias no Rio Grande do Sul. Cansados encostaram o fusca para tirar uma pestana. Ao prosseguir viagem as placas da estrada tinham mudado de idioma, estavam em espanhol. Surpresos entraram na cidade do México pensando que fosse Bento Gonçalves. Constava do relato a compra do fusca pela Nasa. Os viajantes eram amigos do primo de um conhecido e a coisa não ficava por aí, logo alguém contava outra história. Algumas tinham grande conteúdo exotérico. Há quem continue na vida adulta buscando o conhecimento total, o santo graal e a pedra filosofal. Para eles – ingênuos - sempre haverá um Gurdjieff pronto a cobrar pelos ensinamentos. Confesso que cheguei a acreditar na existência de discos voadores, seriam os deuses astronautas? Felizmente a razão se apossou de meu espírito. Se valesse a cultura inútil que acumulei no verdor da existência, os problemas do Tibet não existiriam. Bastaria uma legião de monges levitando para fazer chover canivetes abertos sobre a China. Infelizmente para os crédulos, monges não levitam. E também não trabalham, apenas rezam. Mas comem, ninguém se alimenta de orações.

Sidney Borges

Thursday, November 08, 2007

Reflexões de outono

Eu e o átomo primordial

Volto à questão básica, aliás a única que faz sentido. O que sou, como vim parar aqui e para onde irei quando bater as botas? Sendo um corpo constituído de partículas indestrutíveis que se combinam de formas diferentes, imagino que algum elétron que hoje habita a minha orelha esquerda fez parte das pernas de Cid Charisse, ou quem sabe do nariz de Al Capone, tudo é possível. A matéria do Universo aí está, a mesma de sempre, ora matéria, ora energia, mas como não há nada além dos limites da frente de onda que se expande desde o Big-bang, é certo supor que estivemos um dia comprimidos qual sardinha em lata. Ufa, nem quero me lembrar, isto é nem que eu tente consigo, mas é certo que no instante da "explosão" as partes do meu corpo assistiram a tudo, estavam lá, não sei se na geral ou nas numeradas, mas são testemunhas do evento. Todas as partes, inclusive aquelas cujos nomes não são de bom-tom publicar. Ora há também uma certeza além dos impostos e da morte, em existindo a probabilidade de um evento ocorrer, ele ocorrerá. Com base nisso ouso afirmar que um dia as partículas elementares de meu corpo de hoje estarão organizadas novamente para formar o mesmo indivíduo, o que prova que sou imortal. O termo não é bem esse, na verdade sou mais uma espécie de pisca-pisca cósmico, ora estou, ora não estou. A explicação é simples, um dia todos os que estão vivos morrem, se desmantelam em função de excessos de sexo, drogas e rock and roll, ou de tédio. Tempos depois o acaso junta as pecinhas e começa tudo novamente. Alguém monta o quebra-cabeças, suponho que sejam os deuses, é isso o que parecemos ser, passatempo dos deuses, ora não estou sendo original, os gregos já diziam isso há quatro mil anos. De volta ao planeta, mais sexo, drogas e rock and roll, ou mais tédio, varia de indivíduo para indivíduo, até o novo desmantelo. Na próxima vez vou dar um jeito de fazer algumas modificações, aumentar certas partes, diminuir outras, se bem que tudo será transitório como é agora.

Sidney Borges

Monday, November 05, 2007

Em busca do "Santo Graal"

O Início de tudo...

A grande expansão chamada Big-Bang é irrefutável do ponto de vista científico. Fala-se em explosão, o que não faz sentido, não havia ar para haver som, o termo Big-Bang tem apelo figurativo. A constatação da veracidade é simples, aliás no Universo tudo é simples, menos as pretensões humanas, infinitamente maiores do que a correspondente insignificância. As galáxias estão se afastando. Se o filme for passado ao contrário elas se aproximam, o Universo diminui, vai se adensando até ficar do tamanho de um átomo, o que ocorreu há 13,7 bilhões de anos, uma verdadeira abstração, somos incapazes de conceituar um intervalo de tempo dessa magnitude. Enfim, o que eu quero dizer é que depois de estudar Física por mais de quarenta anos, não tenho dúvida de como tudo começou, o que me intriga é saber o porquê do átomo primordial estar no local da singularidade, como foi parar lá e de onde veio? Se alguém souber, por favor, responda. Em tempo, não aceito explicações que envolvam dogmas ou seres superiores ocultos. Não acredito em deuses embora respeite Jupiter.

Sidney Borges

Monday, October 15, 2007

Civilidade zero

Tempos modernos

O horário de verão começou embolando o meu meio de campo. Nos primeiros dias sinto-me como parte do time do Dunga, dissonante, peça de Stockhausen. Depois passa, como tudo na vida, aliás como a vida. Por falar em finitude, tema recorrente em meus pensamentos, cem pessoas passaram desta para melhor nos feriados. Morreram em acidentes automobilísticos. No futuro nossa época será lembrada com espanto e admiração. Digo isso porque a cada dia acho mais imprudente dirigir. Carros em sentidos opostos somam as velocidades. No sábado eu vi o estado etílico de alguns motoristas que abandonavam a Praia Grande com latinhas de cerveja nas mãos, buzinando e infernizando o ar com as ondas sonoras do bate-estacas no último volume. Prestei especial atenção a uma picape importada, cara, cheia de ornamentos igualmente dispendiosos. Na caçamba um bando de adolescentes bêbados gritando palavrões a todo pulmão. Imagino que estavam se divertindo. Que horror!

Sidney Borges